“Ao falar da presença de Cristo neste Sacramento, o Concílio de Trento havia usado três advérbios. Jesus está presente na Eucaristia “verdadeiramente, realmente e substancialmente”. Presença de Cristo na hóstia de maneira verdadeira, real e substancial (…). O artigo 7º da Sacrosanctum Concilium vai mais além e apresenta diversas presenças de Cristo na Eucaristia, destacando a presença de Cristo na Palavra da Escritura proclamada e Sua presença na comunidade local de culto.”
Jackson Erpen – Vatican News
No nosso espaço Memória Histórica – 50 anos do Concílio Vaticano II, valor falar hoje sobre “Presença de Cristo na Igreja local”.
Depois de ter tratado no último programa sobre o tema “a Igreja, Povo de Deus que celebra”, padre Gerson Schmidt*, com documentos da Igreja e o magistério dos Papas, nos fala hoje sobre “A presença de Cristo na Igreja local”, quer pela sua presença real na Eucaristia, como na comunidade local reunida, recordando o que disse Jesus: “Onde dois ou mais estiverem reunidos em meu nome, aí estarei no meio deles”:
“Antes do Concílio, diante da controvérsia luterana, se falava muito da presença real de Cristo na Eucaristia, na hóstia consagrada, sobretudo usando-se o termo teológico “transubstanciação”, ou seja, a mudança da substância de pão em Corpo de Cristo e do vinho em Sangue do Redentor.
Ao falar da presença de Cristo neste Sacramento, o Concílio de Trento havia usado três advérbios. Jesus está presente na Eucaristia “verdadeiramente, realmente e substancialmente”. Presença de Cristo na hóstia de maneira verdadeira, real e substancial. Posteriormente, causou um forte impacto teológico a afirmação de Pio XII, na Encíclica Mediator Dei, da presença de Cristo em cada celebração Eucarística.
A Igreja, Povo de Deus que celebra
O artigo 7º da Sacrosanctum Concilium vai mais além e apresenta diversas presenças de Cristo na Eucaristia, destacando a presença de Cristo na Palavra da Escritura proclamada e Sua presença na comunidade local de culto. Pio XII e também a SC citam o texto de Mateus 18,20: “Onde dois ou mais estiverem reunidos em meu nome, aí estarei no meio deles”. Cristo se presentifica também nos sacramentos, nas espécies eucarísticas, na pessoa do ministro que preside em nome de Cristo. “Quando alguém batiza, é Cristo que batiza”, diz a Constituição sobre a liturgia (SC, 7).
A comunidade local, reunida em torno do bispo ou do sacerdote, especialmente na celebração eucarística, é a mais eminente epifania da Igreja. A paróquia reunida para o culto representa a Igreja visível através do mundo. A assembleia local, a paróquia como tal, é mais do que uma divisão geográfica ou administrativa da igreja universal. Ela é, de certo modo, essa mesma Igreja.
Por isso, cada cristão deveria sentir-se membro de uma Igreja local, de uma paróquia, dela participar ativamente como paroquiano. Há cristãos que pulam de galho em galho, de paróquia em paróquia e nunca se engajam num trabalho comunitário local. Não se sentem parte de um corpo. Outros que só vão a santuários e romarias e não participam efetivamente na comunidade local de origem geográfica. Nas grandes cidades, é verdade, existe a possibilidade de adesão a uma paróquia afetiva e não geográfica, por diversas razões. Mas que seja esta então a caminhada de fé do cristão consciente de pertença a uma comunidade local.
Por isso, por exemplo, as construções novas das igrejas devem também respeitar esse espírito de koinonia, esse aspecto familiar, a Igreja como sinal da presença de Cristo. Se a finalidade primária do edifício da igreja consiste em criar um espaço conveniente para a comunidade local de culto, segue-se que o objetivo primordial a atingir na organização do espaço litúrgico deve ser a experiência comum de comunidade, de família, de unidade das pessoas que celebram.
Por isso, não se constrói hoje um templo de qualquer jeito, mas de acordo com as normas litúrgicas e em sintonia com a comissão diocesana da Arte Sacra, prevista pela SC no número 46, que afirma: “Além da Comissão de liturgia sacra, instituam-se em cada Diocese, se possível, também Comissões de música sacra e de arte sacra. É necessário que estas Comissões trabalhem em conjunto, e não raramente será oportuno que se unam numa só Comissão”.
A eclesiologia de comunhão não deve se dar apenas no aspecto exterior das igrejas, mas no aspecto interior das pastorais, dos serviços, dos movimentos e setores paroquiais, para configurar ainda mais a presença de Cristo em nosso meio.”
*Padre Gerson Schmidt foi ordenado em 2 de janeiro de 1993, em Estrela (RS). Além da Filosofia e Teologia, também é graduado em Jornalismo e é Mestre em Comunicação pela FAMECOS/PUCRS.